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Barra do Quaraí: uma fronteira especial e exponencial para a pesquisa

Nos dias 23 e 24 de julho os professores Francisca Ferreira Michelon e Alan Dutra de Melo, equipe da Pesquisa “Tecnologias antigas e atuais em culturas tradicionais ibero-americanas: sustentabilidade de paisagens históricas da produção”, apoiado pelo CNPq na chamada 16/2024 – Faixa 1 e Daniele Baltz da Fonseca, coordenadora do  Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio (PPGMP) Cultural da Universidade Federal de Pelotas, estiveram nas cidades de Barra do Quaraí e Uruguaiana, nas quais realizaram uma visita técnica e uma reunião com a Prefeitura da segunda cidade. O convite feito pelo Chefe de Gabinete da Prefeitura de Barra do Quaraí, Professor Hamilton Santos Rodrigues, foi resposta ao contato da Professora Daniele, consultando-o sobre o interesse na visita, motivo para que fosse apresentada uma proposta de trabalho conjunto em uma disciplina a ser oferecida pelo PPGMP. Tanto a visita como a reunião foram um sucesso, que se relata a seguir.

Barra do Quaraí é uma cidade jovem que em outubro próximo comemora 30 anos de emancipação de Uruguaiana. Sua exclusiva característica de ser fronteira com a cidade uruguaia Bella Unión e com a argentina Monte Caseros a fez assumir o título “a tríplice fronteira mais austral do planeta”, pelo qual vem conquistando o diálogo com o mundo e prospectando elementos que reforçam sua identidade fronteiriça.

A visita a essa cidade, como campo de trabalho da disciplina “Seminários de estudos avançados: Projetos inovadores e sustentáveis para o patrimônio cultural”, proposta e coordenada pela Professora Daniele, foi sugerida pela Professora Francisca em razão de que esta fronteira, distante da sede do PPGMP sete horas em viagem rodoviária, constitui um dos campos de estudo da pesquisa citada no início do texto. E, assim, como diz o ditado: “uma coisa leva à outra”, o projeto de investigação sempre surpreende pelo que se encontra no avanço da pesquisa. O que se encontrou em Barra do Quaraí foi um grupo de gestores interessados em parcerias e em projetos que possam auxiliar a caminhada que levará o Comitê de Integração Fronteiriça Trinacional a obter o êxito esperado na postulação do Corredor Biológico Trinacional como Reserva Transfronteiriça da Biosfera junto ao Programa “O homem e a Biosfera” da Unesco. Tal postulação pressupõe que a biodiversidade e o desenvolvimento sustentável podem ser vetores convergentes, pelos quais surjam soluções para uma sociedade mais equilibrada, se a meta for a convivência para e pelo aprendizado. Portanto, memória, patrimônio e cultura são ferramentas contributivas para essa finalidade.

Poucas palavras são necessárias para dizer como a visita apontou possibilidades ao projeto que inspirou a visita. Barra do Quaraí está situada na foz do Rio Quaraí onde desaguam as águas do Rio Uruguai. É uma região de pampa e campos na qual subsiste um elo com o passado de disputas territoriais: a ilha brasileira. Do passado, a memória dos charruas, dos saladeiros e do campesino gaúcho desconhece as linhas de fronteira e aproxima os três países tanto pelo que sabem como pelo que desconhecem. O Parque Estadual do Espinilho é outro aspecto essencial da cidade, já que parte do seu território está no município. Essencial pelo que significa e promissor pelo que poderia ser.

Mas, a importância da visita atingiu o outro projeto coordenado pela Professora Francisca: “Museus de ruínas em paisagens rurais: sustentabilidades do patrimônio industrial”, apoiado pelo CNPQ no edital 09/2022. Ao visitar as ruínas do Saladeiro São Carlos, um dos primeiros a ser construídos na fronteira com o Uruguai, por volta de 1887, talvez mais tarde, vem de imediato o entendimento que na época e na região havia fartura de gado na região, que gerou o poder e um dos motivos para a matança dos índios charruas. Curiosamente, também esse é o vetor que vincula a cidade à memória das reduções jesuíticas. Esse período inspira pensar que a integração fronteiriça de fronteiras que só viriam a ser demarcadas depois, foi a experiência prévia da ideia de Mercosul. Portanto, são ruínas silenciosas que continuam falando de tempos nem tão findos. Várias parcerias estão sendo propostas a partir dessa visita e logo será possível falar sobre elas.

Notícia escrita pela Professora Francisca Ferreira Michelon em 25 de julho de 2025.

Fotografias de Francisca Ferreira Michelon.