Coordenadora: Francisca Ferreira Michelon
Coordenação Adjunta: João Fernando Igansi Nunes
O principal problema da pesquisa é identificar as tecnologias tradicionais, tanto as em desuso quanto as ainda empregadas, em diferentes tipologias do patrimônio cultural, com ênfase no patrimônio industrial e alimentar. O foco são os objetos modestos (Schumacher, 1974), de fabricação simples e circunstancial, que remetem à visão do uso adequado dos recursos humanos e naturais, iluminando a problemática do desenvolvimento baseado em modelos que desconsideram a escala humana e desbastam a natureza. Os grupos focais, produtores ou herdeiros desses objetos e técnicas, pressupõem conexões entre si, advindas de sua condição inscrita no dinâmico espaço cultural da Ibero-América. Portanto, analisar as ferramentas, e preferencialmente os objetos utilitários, técnicas de uso e como foram construídos é buscar entender as tecnologias em sua profundidade histórica, o que indica a pluralidade de origens que marca esses territórios. Além disso, verificar se os objetos ainda se mantêm nas comunidades, se foram transformados, suplantados ou ressignificados nos museus – cruciais para esta pesquisa – permitirá inferir se as perdas ou transformações traduzem impactos na sustentabilidade dos ambientes onde as técnicas eram praticadas. Os grupos focais a serem definidos nos cinco países participantes do projeto (Argentina, Brasil, Chile, Espanha e Portugal) apresentam-se como uma amostragem de espaço ibero-americano no qual se reconhecem múltiplas matizes culturais. Os territórios dos grupos focais são determinados em cada país e região por estudos já realizados e a partir de conexões históricas conhecidas. O projeto inspira-se nos princípios teóricos e metodológicos do Doutoramento em Patrimônio, Tecnologia e Território (UAL e IPT), da Cátedra UNESCO-IPT HUM.CILM, de conteúdos da Red Applab, Laboratório Americano de Paisagens Históricas da Produção (Universidad de Sevilla) e parte de resultados do projeto piloto Polo Morro Redondo, na Serra dos Tapes, extremo sul do Brasil.
FINANCIAMENTO: APOIO RECEBIDO DO CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO -CNPQ / BRASIL –CHAMADA PÚBLICA MCTI/CNPQ N. 16/2024 – APOIO A PROJETOS INTERNACIONAIS DE PESQUISA CIENTÍFICA, TECNOLÓGICA E DE INOVAÇÃO – FAIXA 1.
INSTITUIÇÕES COLABORADORAS:
1. Herity International Italia
2. Universidade Católica de Pelotas – Curso de Arquitetura e Urbanismo
EQUIPE
Francisca Ferreira Michelon, João Fernando Igansi Nunes, Sidney Gonçalves Vieira (coordenadores), Adriana Lobo (Emater), Alan Dutra de Melo (Unipampa), Caterine Henriques Mendes (IFE Sul), Cátia Maria Machado (FURG), Claudia da Silva Nogueira (UFPEL), Claudia Leonor López Garcéz (Museu Paraense Goeldi), Diana Adamatti (FURG), Giane Trovo Belmonte (UFPEL), Katia Helena Rodrigues Dias (UFPEL), Laiana Pereira da Silveira (UFPEL), Laura Gomes Zambrano (UCPel), Lilia Waltzer Rodrigues (UFPEL), Lucas Zuchoski Ceglinski (UFPEL), Luciana de Castro Neves Costa (UFPel), Nathália da Silva Benito (UFPEL), Olivia Silva Nery (UFRGS), Rayza Roveda Ataides (UFPEL), Ubirajara Buddin Cruz (UFPEL), Wagner Halmenschlager (UFPEL).
EQUIPE ESTRANGEIRA
Luiz Miguel Oosterbeek – Instituto Politécnico de Tomar e Instituto Terra e Memória / Portugal
Pablo Lacoste – Universidade de Santiago do Chile / Instituto de Estudos Avançados (IDEA)
Vicente Julián Sobrinho Simal – Escola Técnica Superior de Arquitetura / Universidade de Sevilha / Espanha
Mariela Ceva – Universidad de Lujan y Instituto de Desarrollo Económico y Social – IDES/Argentina.
Inguelore Scheunemann – Conselho Superior Acadêmico do IPT / Presidente do Herity International
Coordenadora: Francisca Ferreira Michelon
Coordenação Adjunta: João Fernando Igansi Nunes
A construção do objeto desta pesquisa, que está delimitado na sua condição territorial e espacial, partiu de uma consideração elementar ao campo observado: se o impacto da industrialização é potente no processo urbano, igualmente (ou mais) o é no rural. Nas regiões nas quais se pretende atuar, sobretudo a Microrregião de Pelotas, por onde se inicia, a situação socioeconômica é decorrência direta do processo urbano da região que implica uma área rural extensa, na qual predominam variáveis transversais aos municípios que definem elementos de uma cultura compartilhada. Identificar os bens e aplicar sobre eles um processo de preservação fundado em princípios que caracterizam os museus de comunidade, determinam que só pode ser realizado em conjunto com a comunidade, sendo esse processo o principal objetivo do trabalho.
Financiamento: Apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq / Brasil – Chamada CNPq No 09/2022 – Bolsas de Produtividade em Pesquisa – PQ
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS:
1. Universidade de Sevilha
INSTITUIÇÕES COLABORADORAS:
1. Herity International Italia
2. Universidade Católica de Pelotas – Curso de Arquitetura e Urbanismo
EQUIPE
Equipe: Amanda Mensch Eltz, Cláudia da Silva Nogueira, Flora Coelho Jerozolimski, Juliana Mohr dos Santos, Giane Trovo Belmonte, Vicente Julián Sobrino Simal, Jossana Peil Coelho, Lília Waltzer Rodrigues, Nathalia Benito da Silva
Pesquisador: Wagner Halmenschlager (doutorando)
Pesquisas sobre as festas e a tradição local do município de Morro Redondo/RS, para a formação de uma paisagem gastronômica do município. Mais precisamente se a patrimonialização dos doces coloniais foi um processo que obliterou o reconhecimento de outras práticas gastronômicas, a fim de contribuir com o resgate da história da culinária da região de Morro Redondo/RS, abrir uma discussão sobre a maneira de pensar a política nos processos de patrimonialização dos alimentos e verificar a existência de novos patrimônios alimentares, para contribuir com a identificação da paisagem gastronômica do município de morro redondo, auxiliando na preservação de hábitos alimentares que formam práticas culturais, sociais, sua relação direta entre consumo e os meios de produção na formação da tradição local, proporcionando a perpetuação do conhecimento, das práticas do saber fazer, bem como a descoberta potencial de novos patrimônios alimentares.
Pesquisador: Amanda Mensch Eltz (doutoranda)
Doutoranda em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL – turma 2021), sob orientação da Profa. Dra. Francisca Ferreira Michelon. Mestra em Museologia e Patrimônio pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2019). Licenciada em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2009). Especialista em Educação Especial e Gestão de Processos Inclusivos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2016). A pesquisa tem por espaço-lugar o litoral Norte do Rio Grande do Sul e é dividida em três momentos. No primeiro será desenvolvido o percurso histórico cultivo e derivados da cana doce na região. O segundo abordará o conceito patrimônio agroindustrial familiar, assim como, saber-fazer e tradição no cultivo e beneficiamento da cana-de-açúcar. Por fim, serão analisados os fatores de impacto que interferem na manifestação cultural, como políticas e ações públicas, para além do campo do patrimônio, ressaltando a urgente abordagem interdisciplinar com vistas a preservação e difusão do bem imaterial vivido.
Pesquisador: Juliana Mohr dos Santos (mestranda)
Logo após me formar em Magistério optei pela Licenciatura em História e tempos depois fiz o Bacharel. Durante a graduação tive oportunidade de trabalhar em projetos de pesquisa que desenvolveram o meu apreço pela da educação patrimonial e as diferentes questões que constroem a identidade dos grupos. Hoje depois de ter vivido experiências em pesquisas envolvendo arqueologia, história oral, gestão de acervo documental e fotográfico voltei as origens familiares para valorizar a cultura do litoral norte do Rio Grande do Sul. Dos muitos aspectos singulares que as famílias agricultoras dessa região, que mistura lagoas, serra e mar, desenvolveram para prover seu sustento, escolhi pesquisar não sobre o alimento que produzem, mas os sabores da sua comida diária. Os sabores únicos das comidas do cotidiano que permeiam a memória de várias gerações, criadas a partir dos produtos disponíveis em suas plantações, junto com suas receitas europeia e o que aprenderam com as técnicas de processamento indígenas. Cada comunidade que pertencia a antiga Torres possui receitas que tem por base o mesmo ingrediente principal, o polvilho, mas com receitas e sabores caraterísticos daquela comunidade. Meu intuído com a pesquisa é registrar os saberes gastronômicos locais, fomentar a valorização da identidade desses grupos e, em certa medida, proteger o jeito de viver litorâneo das famílias que estão na região a mais de 150 anos e hoje estão sufocadas pela cultura dos novos moradores que para lá migraram.
Pesquisador: Laiana Pereira da Silveira (doutoranda)
Pesquisa sobre os processos históricos, memoriais e identitários dos uniformes do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, desde a formação do clube em 1903. O tema envolve questões econômicas, culturais, tecnológicas, sociais, migratórias, identitárias, regionais, geográficas, entre outras esferas relevantes para compreender determinados processos. Pretende-se compreender não apenas como surgiu os uniformes que acabam sendo comercializados para os torcedores pelo seu viés histórico e econômico, mas compreender as questões de pertencimento, de afetividade, de materialidade, de colecionismo e do simbólico, assim como o uso de recursos mnemônicos do clube como estratégia de marketing que converta o produto da indústria criativa (vestuário) em arrecadação para o time. Portanto, busca-se compreender o mercado de vestuário no futebol: contratações de jogadores, novos patrocinadores, lançamento de uniformes a cada temporada, etc. Estes são alguns dos diversos aspectos que tornam o futebol, assim como o mercado do vestuário, uma área em constante movimento e que fideliza milhares de pessoas em nome de uma paixão comum. Portanto, além da pesquisa preencher uma lacuna significativa no campo da memória social, referente ao vestuário e futebol, além de contribuir para o desenvolvimento teórico do campo acadêmico, e da contribuição acadêmica, observando o impacto histórico, social e econômico, há também o interesse pessoal e a paixão pelo assunto, o que motiva ainda mais a construção da pesquisa, que é de fontes inesgotáveis e está sempre em movimento.
Pesquisador: Denise Prado Costa (doutoranda)
Pesquisa sobre as danças na cidade do Rio Grande RS, através da historicidade local a partir de uma abordagem contextual, momentânea e fruto de um processo elaborado por subjetividades diversas, tecidas em diálogos com muitos sujeitos. Considera o contexto histórico através das danças e busca realizar o inventário desses registros através de memórias que resistem vivas nas oralidades, nas culturas e saberes populares, expressados por meio das danças. Foto: Escola
Pesquisador: Giane Trovo Belmonte (doutoranda)
A unidade da Cooperativa Sul Rio Grandense de Laticínios Ltda. (Cosulati)1, a qual se refere este anteprojeto, é uma das fábricas extintas que constitui o que já foi um grande complexo industrial no Rio Grande do Sul, envolvendo cooperados de 45 cidades do Estado. Hoje, essa unidade está fechada e vem, como brevemente será apresentado nestas páginas, espelhando os conflitos que envolvem uma memória irresoluta, fundada em perdas profundas de uma comunidade que não consegue discernir o processo que gerou o fracasso que a acometeu. De fato, o processo é complexo, atravessado por variáveis que se colocam em áreas de sombras, que tanto conjugam elementos frequentes na administração cooperada como apresentam desenvolvimentos próprios dos espólios, que caracterizam o campo do patrimônio industrial e os impactos na manutenção econômica e social de determinada comunidade (Sobrino, 2011).
Embora o objetivo não seja tratar dos conflitos de memória que observo nesta comunidade, como “memórias subterrâneas”, tal como as diz Michael Pollak (1989) quando difunde a ideia de que os momentos de crise favorecem conflitos e disputas — sendo nesses momentos que as memórias retidas afloram —, naturalmente é possível identificar, nos relatos aos quais tenho tido acesso, que há silêncios estratégicos que se fragilizam frente a embates que vão surgindo conforme o processo avança.
Pesquisador: Claudia da Silva Nogueira (doutoranda)
Este trabalho investiga de que forma a gestão cultural integrada atua na constituição de museus de comunidade como “fábricas de conhecimento” no “Sul do Arco Sul”, região caracterizada por cidades de pequeno e médio porte em área de fronteira, na Mesorregião Metade Sul do Rio Grande do Sul. A pesquisa analisa a interação entre políticas culturais, práticas museológicas e paisagens culturais, compreendidas como territórios vivos onde expressões históricas, sociais e ambientais se entrelaçam. O estudo adota uma abordagem qualitativa, combinando revisão bibliográfica, visitas de campo e entrevistas com gestores, técnicos e representantes locais, a fim de compreender como tais museus ultrapassam a função de preservação patrimonial e se consolidam como espaços de compartilhamento de saberes. Os resultados preliminares apontam que a articulação entre poder público, sociedade civil, universidades e lideranças comunitárias fortalece iniciativas voltadas ao pertencimento identitário, à educação patrimonial e ao desenvolvimento sociocultural. Verifica-se também que os museus analisados promovem ações dialógicas com suas comunidades, permitindo a produção de significados que refletem a pluralidade das paisagens culturais. Contudo, emergem desafios estruturais, como a carência de recursos financeiros e a necessidade de políticas de manutenção contínuas, que exigem uma gestão cultural mais integrada e colaborativa. Ao final, o estudo reforça a hipótese de que, ao consolidar estratégias inclusivas e alinhar práticas de salvaguarda com a participação comunitária, esses museus potencializam o desenvolvimento local, reafirmam sua função social e fortalecem a memória coletiva na região.
Pesquisador: Caterine Henriques Mendes (Doutoranda)
Esta pesquisa tem como objetivo refletir sobre a antiga Fábrica de velas e sabão Lang como patrimônio industrial/cultural da cidade de Pelotas em sua dimensão imaterial, bem como ponderar sobre a sua gestão, seus usos, impasses e as possibilidades que se apresentam a esse patrimônio. A partir dos (des)caminhos trilhados na busca de reconhecimento e proteção da antiga Fábrica de velas e sabão Lang como patrimônio cultural da cidade, observa-se uma lacuna importante, que esta pesquisa pretende preencher: buscar a sua dimensão imaterial, ou seja, as memórias da comunidade e de ex-trabalhadores, que envolvem este patrimônio industrial, na sua materialidade, buscando compreender o legado social e cultural desse processo e sua relação com o mundo do trabalho.
Diante disso, busca-se responder a seguinte problemática: temos aqui um potente lugar de memória, composto por fragmentos de recordação e histórias de muitos cidadãos, ex-trabalhadores e múltiplas memórias. Quais são essas memórias? São memórias do trabalho, memórias afetivas, memórias traumáticas, memórias das relações sociais ou culturais? A partir disso como pensar na gestão deste patrimônio como um vetor de bem- estar social e, através de seus novos usos, trabalhar como ferramentas para o desenvolvimento local onde está inserido, por meio também de seu aspecto intangível? Como despertar a consciência cidadã em relação a esse patrimônio? Qual a relação da comunidade pelotense e dos ex-funcionários, e as suas reivindicações memoriais com a Fábrica Lang? Quais são as ressonâncias deste patrimõnio em relação à sua comunidade? Como a comunidade considera esse patrimônio, há um reconhecimento dos vestígios, daquilo que sobrou, dos “restos” da fábrica, como patrimônio? Quem atribui significados a esse patrimônio? Um memorial basta para garantir a sua preservação? Qual seria a função desse memorial? A quem serviria e o que comunicaria? Este patrimônio está cumprindo a sua função social? Quanto de poder há nessa seleção/reivindicação memorial? E como habitar esses lugares de memória?
Pesquisador: Rayza Roveda Ataides (mestranda)
A pesquisa analisa o trabalho feminino na antiga Metalúrgica Abramo Eberle S.A. em Caxias do Sul (RS), registrado visualmente no decorrer da história das atividades da empresa. Fundada em 2 de abril de 1986 pelo italiano Abramo Eberle, a metalúrgica produziu diversos itens como talheres, aviamentos metálicos e equipamentos industriais durante boa parte do século XX. O que hoje se reconhece como o Polo Metalúrgico da região da Serra Gaúcha, tem sua origem na Fábrica Eberle cuja contribuição para o desenvolvimento industrial daquele local, estende-se para o Brasil. Basta destacar que foi uma das indústrias pioneiras na fabricação de produtos maquinários no país (Tissot, 2011).
O acervo da Eberle no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, por si só tem uma história peculiar. De acordo com o Jornal Pioneiro (2016) em 2016, durante um curso técnico para alunos do ensino médio ministrado pelo Senai, na biblioteca da Mundial SA Produtos de Consumo, foi encontrado um conjunto que incluía álbuns de fotografias da empresa, cartas de autoria de Abramo Eberle, além de outros tantos documentos produzidos ao longo de mais de 100 anos da Eberle. Cabe esclarecer que três anos antes, a Eberle deixa de existir pela unificação com Zivi-Hercules, fábrica da capital gaúcha que tem sua origem no ano de 1931. Essa unificação é que deu origem à Mundial, justificando a localização do achado. Por indicação do grupo e aceite da diretoria o extenso material foi doado ao Arquivo Municipal.