Palestra promovida pelo Fábrica de Memórias PPGMP contempla conteúdos de projetos de pesquisa em andamento
No dia 14 de julho de 2025, a Professora Doutora SABINA VALLARINO SEBASTI, docente da Universidad de La República (UDELAR) proferiu palestra intitulada: “Sobre ruínas e memórias: o massacre dos Charruas no Uruguai” a convite do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas e do Grupo de Estudos Fábrica de Memórias.
A professor Sabina iniciou com uma questão reflexiva: “Qual a imagem que os presentes têm do Uruguai e seus nativos? Um povo pacifico, conciliador, estável?” E a partir dessa ideia, construiu uma trajetória que inicia com a constatação de que o primeiro presidente da República Oriental do Uruguai instituiu a eliminação do povo Charrua, e que tendo ou não tido sucesso no genocídio perpetrado, logrou instituir um processo de apagamento da memória desse grupo étnico – e de outros – de tal modo que os traços dessa cultura se perderam. O exemplo citado, a que se refere o título da palestra, ficou conhecido como o Massacre de Salsipuedes, ocorrido em 11 de abril de 1831, nas proximidades desse rio e que foi a primeira ação de uma campanha de extermínio do país, então já conformado como nação. Na continuidade, a professora apresentou uma tese: a de que a violência que instituiu o projeto de eliminação dos povos indígenas no Uruguai é uma marca de sofrimento que permanece na condição de uma herança silenciosa e que responde por ser o Uruguai um país triste e melancólico, que chora, sem saber, a injustiça nunca reparada, e para alguns, nem reconhecida.
Dentre outras contribuições, destaca-se a importância da palestra para dois projetos de pesquisa em andamento.
Para o projeto “Museus de ruínas em paisagens rurais: sustentabilidades do patrimônio industrial”, proposto e coordenado pela Professora Francisca Michelon e apoiado pelo CNPQ no edital 09/2022, o entendimento de ruína como uma memorial no tempo, uma marca silenciosa do fato e no caso da palestra, de um trauma, impulsiona a importância de mantê-la, e sob um viés ruskiniano que reconhece o sublime do tempo nela expressado, de não tocá-la, ou seja, deixa-la viver o seu valor intrínseco de processo de morte.
Já para o projeto “Tecnologias antigas e atuais em culturas tradicionais ibero-americanas: sustentabilidade de paisagens históricas da produção”, também apoiado pelo CNPq na chamada 16/2024 – Faixa 1, a maior contribuição da palestra foi estimar a falta de conhecimento dessas culturas que, muito provavelmente, compuseram parte da cultura material que remanesce até hoje. Pelo domínio que teriam dos recursos da região e pela alta capacidade de adaptação e aproveitamento do que era inserido pelos europeus na paisagem local, tais culturas devem ter engendrado modos de fazer todas as formas de utilidades que mesmo após o desaparecimento ou apagamento desses povos, permaneceram com as populações locais.
Desse modo, o contato com pesquisadores do país vizinho e de outros locais contribui para a amplificação de conteúdos, conceitos e exemplos que prosperam as reflexões propostas pelas pesquisas do Grupo e do PPGMP.
Notícia escrita pela Professora Francisca Ferreira Michelon em 17 de julho de 2025.

Palestra da Professora Sabina Sebasti no Auditório do CEHUS-UFPel. Fotografia de João Fernando Nunes.

Professoras Francisca Michelon e Sabina Sebasti na abertura da palestra.
Fotografia de João Fernando Nunes.