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Viajando no Pampa, pelos trilhos da memória

Esse texto registra uma das visitas técnicas realizadas para os projetos “Museus de ruínas em paisagens rurais: sustentabilidades do patrimônio industrial”, apoiado pelo CNPQ no edital 09/2022 e “Tecnologias antigas e atuais em culturas tradicionais ibero-americanas: sustentabilidade de paisagens históricas da produção”, também apoiado pelo CNPq na chamada 16/2024 – Faixa 1. Estas visitas ocorridas entre os dias 09 e 12 de agosto, realizada por mim e a professora Francisca Ferreira Michelon, coordenadora dos projetos citados e do grupo de estudos Fábrica de Memórias, aconteceram nas cidades localizadas na região da Campanha, no Pampa Gaúcho. Essas cidades pertencem à Região Funcional 6 formada pelos COREDEs Campanha e Fronteira Oeste. Foram visitadas: Pinheiro Machado, Candiota, Hulha Negra, Bagé, Dom Pedrito, Santana do Livramento e Quaraí.

Essa região do Estado, caracterizada por vastos territórios, cuja vegetação há séculos vem sendo usada como pastagem para a produção pecuária, teve como base da economia, as atividades agropastoris. O gado, introduzido pelos jesuítas, acabou se espalhando pela imensidão dos campos, surgiram as estâncias e, com elas as charqueadas e saladeiros, posteriormente os frigoríficos. Essa foi uma das principais características das cidades da Campanha, em especial as descritas nesse texto, todas fronteiriças ao Uruguai, país que divide com o RS o bioma Pampa e uma cultura campeira muito similar. Com o passar dos tempos, outras atividades econômicas foram surgindo, criando assim, novas paisagens culturais. Nas cidades visitadas há um considerável acervo arquitetônico de inestimável valor patrimonial e memorial.

Quando pensamos nosso mapa, inspirado em um modelo apresentado pelo TICCIH, sobre o patrimônio industrial de Pelotas, a princípio, por uma razão óbvia, fizemos a geolocalização dos prédios da UFPel que são dessa tipologia. Posteriormente, as indústrias de conserva de frutas e legumes, urbanas e rurais. Para o transporte da produção industrial, o trem era uma das principais alternativas ao final do século 19 e nos anos seguintes. Não só como transporte de carga, mas sobretudo, de passageiros. Com isso, pensamos em acrescentar as estações ferroviárias, em especial o trecho entre Rio Grande e Bagé, com Pelotas no meio. A interligação dessas cidades representava o tripé econômico, gado-charque-porto. Mas, impossível ignorar a importância do transporte ferroviário e sua importância no desenho urbano e na organização morfológica das cidades. Junto com as estações, vieram, também mudanças no ritmo e no tempo citadinos. As localidades e cidades passaram a ter um novo lugar de encontros e sociabilidade. Muitos municípios nasceram ao redor das estações de trem. O espaço urbano viu aflorar um grande desenvolvimento no período áureo das ferrovias.

Essa estrada de ferro, que começa em Rio Grande, embora não seja um ramal contínuo, e sim diversas ramificações, segue paralelo à fronteira com o Uruguai até Barra do Quaraí. Na visita técnica que fizemos, estivemos nas estações de Bagé, Dom Pedrito, Santana do Livramento e Palomas. Embora em nosso mapa, muitas das estações não passam de fragmentos que resistem à ação do tempo, do descaso e vandalismo, as estações visitadas se encontram em bom estado de conservação e preservação e colaboram para composição da paisagem cultural onde estão inseridas. Duas delas apresentam uso distinto, já sem os trilhos.

Em Bagé, o prédio da estação é utilizado como Centro Administrativo do Município e os trilhos foram removidos desde que a linha passou a correr por fora da cidade, alcançando o pátio de manobras da Vila Histórica de Santa Thereza. Convém lembrar que a primeira estação de Bagé, de 1884 foi consumida por um incêndio em 1924 e o prédio atual é de 1929.

Fachada principal da estação ferroviária de Bagé.
Fotografia de Ubirajara B. Cruz, agosto de 2025

Fachada traseira da estação ferroviária de Bagé, lugar onde os trens chegavam.
Fotografia de Ubirajara B. Cruz, agosto de 2025.

Assim como em Bagé, em Dom Pedrito a estação apresenta um uso distinto ao original, abrigando o Centro Cultural Gisele Bueno Pinto, da Prefeitura Municipal. O prédio, de 1943, se encontra completamente restaurado e mantém preservada sua arquitetura original, porém sem mais os trilhos. No entorno, ainda sobrevivem outros prédios que fizeram parte do conjunto ferroviário.

Fachada frontal da estação ferroviária de Dom Pedrito.
Fotografia de Ubirajara B. Cruz, agosto de 2025.

Fachada lateral da estação ferroviária de Dom Pedrito.
Fotografia de Ubirajara B. Cruz, agosto de 2025.

Já em Santana do Livramento, a estação ferroviária se encontra em funcionamento, porém, não mais com trens de carga e passageiros, mas sim, com um interessante investimento ferroviário turístico, que aproveita a cultura vitivinícola da região, com passeios de trem por paisagens do pampa gaúcho até a localidade de Palomas, onde há uma pequena estação.
O prédio da estação, de 1910, se encontra em perfeitas condições, com um restauro que valorizou a arquitetura. Em seu interior, há espaço destinado à memória do transporte ferroviário no Rio Grande do Sul, além de lojinhas de souvenir e gastronomia. No entorno, outros prédios também foram restaurados, preservando assim, o conjunto.

Fachada frontal da estação ferroviária de Santana do Livramento.
Fotografia de Ubirajara B. Cruz, agosto de 2025.

Parte traseira da estação ferroviária de Santana do Livramento, local de embarque e desembarque do trem. Destaque ao relógio, em funcionamento.
Fotografia de Ubirajara B. Cruz, agosto de 2025.

Na simpática localidade de Palomas, está localizada a estação de mesmo nome, em meio a importantes vinhedos e próximo ao Cerro Palomas. Nessa estação, cujo prédio é de 1910, passaram trens de passageiros até 1980, incluindo aí, o Trem Internacional, que unia São Paulo a Montevidéu. Restaurado para o investimento turístico, o prédio se encontra em perfeitas condições.

Fachada traseira da estação Palomas. Fotografia de Ubirajara B. Cruz, agosto de 2025.

Fachada lateral da estação Palomas.
Fotografia de Ubirajara B. Cruz, agosto de 2025.

Notícia escrita por Ubirajara Buddin Cruz, em 28 setembro de 2025.